Ana Maria Ribeiro*
No ultimo período estamos assistindo a uma fortíssima campanha de destruição de um ex-presidente da Republica. Derrepente, Sarney virou o vilão da política brasileira. O ataque é tanto que é bem provável que a população brasileira esteja sentido “pena” do homem!!
Por isso, torna-se fundamental recuperar a historia recente deste país, e é inevitável voltar a 1984 e as inúmeras lutas e manifestações que participamos em defesa das Diretas Já. Lutávamos por eleições diretas em nosso país, lutávamos pela redemocratização do Brasil. Mas, a elite brasileira, as oligarquias, com o apoio dos partidos reformistas (PCdoB e PCB), achavam que a transição tinha que ser lenta e gradual. O medo da volta da ditadura era enorme e, portanto a saída pelo Colégio Eleitoral – votação entre deputados e senadores - para escolha do presidente e vice, foi a opção segura para eles.
Um grande acordo dos liberais levou Tancredo Neves e José Sarney ao poder, instituindo a Nova Republica. O destino levou o representante da Família Neves (avó do Aécio –Minas Gerais), que faleceu sem tomar posse de fato, e deixou à Família Sarney (pai de Roseane – Maranhão) a posse da Presidência da Republica. Este grande acordo contou com o apoio da Família Magalhães (família de numerosos políticos e empresários – Bahia), da Família Maia (Rio Grande do Norte), da Família Marinho (sistema Globo), da Família Sendas (supermercados), e de tantas outras oligarquias/famílias existentes no poder político e econômico de nosso país. Já há muitos e muitos anos que o sistema patriarcal da política, da hereditariedade – quase feudal – está presente na política brasileira e foi amplamente apoiada por este mesmo sistema de mídia que hoje o esquarteja publicamente. Esta mesma mídia que durante todos estas décadas induziu a população brasileira a aceitar o poder destas famílias, mais do que isso, estas famílias em alguns estados são as proprietárias destas mídias e as utilizam para a disputa de poder entre famílias locais.
A hipocrisia da mídia, em desqualificar os políticos por questões que mistura Estado e Família, está em ser, ela mesma, uma propagadora de privilégios para os familiares em detrimento de instrumentos públicos e transparentes para o acesso ao poder. Não estamos tratando de mérito acadêmico, mas de poder, poder político, poder de exposição publica. Quando toda uma população vê que o filho/filha do principal ator/atriz, que a esposa do diretor da novela, consegue papel principal numa novela em detrimento dos simples mortais que estão fazendo curso de ator, a mídia (concessão publica) está fortalecendo a política familiar. A política dos realitys shows, os indivíduos têm a chance de ficarem “famosos” por um minuto e a mídia tenta passar a falsa impressão de democratização do acesso a exposição. Mas sabemos perfeitamente o quanto é elitista e, tão protecionista quanto a política das oligarquias brasileiras tão defendida e apoiada por esta mesma mídia ao longo de todas estas décadas.
Os que conhecem as entranhas das grandes corporações da mídia sabem muito bem as Famílias que têm poder. Os que conhecem as entranhas das grandes oligarquias, principalmente as nordestinas, sabem muito bem as Famílias que têm poder. A receita neoliberal para reduzir este poder familiar nos foi apresentado na década de 90 com a globalização da economia e da política, abrindo os mercados, saindo o Ltda para o S/A (Limitada para Sociedade Anônima) assim como, a redução do papel do Estado, numa grande tentativa de reduzir, pelo menos na economia, a estrutura familiar.
Para entender o atual cenário da hipocrisia de nossa mídia também é necessário olhar para o futuro. Qualquer individuo, com a mínima capacidade de analise política, sabe ler nas entrelinhas deste espetáculo de “defesa da ética publica” um claro ataque a todos e todas que, ao deterem poder político, possam estar fortalecendo a vitoria de Dilma Roussef à Presidência da República em 2010. Por isto a situação se torna mais complexa e, como uma boa partida de xadrez, é fundamental saber quais as peças a mexer no tabuleiro. Sem duvida nenhuma, o que deveria estar na ordem do dia era a Reforma Política.
A democracia participativa é um questionamento da democracia liberal elitista, organizada unicamente por meio da democracia representativa e, no fundamental, via profissionalização dos partidos em redes de interesses privatizadas e fora do controle da cidadania ativa. O centro da reforma política pela qual lutamos é exatamente o de vincular um novo sistema de regulação dos partidos e das eleições, por meio do financiamento público exclusivo e da fidelidade partidária, a legitimação de formas avançadas de democracia participativa e deliberativa, de modo a criar uma nova dinâmica virtuosa de participação popular na política
O setor público fortalecido seria a mediação entre a democracia participativa e um novo paradigma de desenvolvimento. Democracia participativa é a formação de um espaço público deliberativo que combina democracia parlamentar, democracia semidireta (referendos, plebiscitos) e espaços, em graus diversos de institucionalização, de participação direta dos cidadãos e cidadãs. Trata-se de criar um sistema nacional de democracia participativa, que envolve uma crescente democratização do poder político, e se relaciona diretamente com a campanha por uma reforma política.
Mas esta reforma política não interessa à mídia e à seus interesses, mas nos interessa, e muito....
*Técnica em Assuntos Educacionais/UFRJ
0 comentários:
Postar um comentário